quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

É PERNAMBUCO NO HAVAÍ.

Por: Marcelo Sá Barreto / JC.com.br

Luel, Pekel, Alexandre, Gabriel e Ian, representam PE em águas Havaianas.
A década de 1980 ficou famosa no mundo do surfe com a invasão brasileira no Havaí. Eles ficaram conhecidos como “Brazilian Nuts (Nozes Brasileiras)”. Eram os loucos que encaravam toda e qualquer condição de mar com o mínimo de acessório, na vontade. Entre eles, destacavam-se os pernambucanos Carlos Burle e Eraldo Gueiros, hoje mestres das ondas gigantes. A tradição do Estado no arquipélago norte-americano que vive o surfe 24 horas por dia não se esvaiu com o tempo.
Este ano, até uma pequena comunidade de atletas estaduais, uma espécie de república, foi “fundada” em pleno North Shore da Ilha de Oahu, onde estão abrigadas as ondas mais famosas
do mundo - como Banzai Pipeline e Sunset Beach. Cada um na sua, Luel Felipe, Alexandre Ferraz, Gabriel Farias, Nuande Pekel e Ian Gouveia representaram as cores de Pernambuco e trouxeram na bagagem aprendizado de sobra.
O Havaí é um território hostil no que se refere ao surfe. Encarar os atletas da região, sempre com cara de poucos amigos, é comum – e dificílimo. Estar em comunidade, ainda mais no caso dos pernambucanos, amigos de infância, ajuda a amenizar o clima.
“Além do prazer de encontrar esses meninos, eu que estou em Portugal, você se sente mais confortável. Todo mundo surfa junto. E estar ao lado dos amigos é inspirador. Meninos como Ian e Luel eu levei para surfar em Maracaípe. Hoje, estão aqui, representando a nossa terra”, comentou Pekel.
Existe o lado prático. Os mais antigos nas temporadas em Oahu, como Ian, filho de Fábio Gouveia, o maior surfista brasileiro de todos os tempos, servem como espelho. Saber se portar no mar é essencial para não criar confusão. Além disso, numa república que se preza, todos contribuem nas contas. E se manter fica mais fácil, porque o Havaí não é barato.
“Fazer parte da república nos deixa soltos. A intimidade ajuda. Um está sempre filmando o outro e, claro, num ambiente de um esporte competitivo como o surfe, um puxa o nível do outro. Ninguém quer ficar atrás. Cada um que quer ser melhor”, brincou Luel Felipe, que está na sua segunda temporada. “A tradição de Pernambuco se mantém. Apesar de todas as dificuldades, o que fica é a ajuda dada uns aos outros”, conclui Alexandre Ferraz.
Bagagem para brilhar
Encarar as ondas de Pipeline não é para os fracos. O ambiente é hostil por natureza. Vagalhões com energia de sobra, vindos das águas mais profundas do Oceano Pacífico, encontram-se com uma rasa bancada de coral.
Gente machucada na areia, pranchas quebradas e surfistas locais prontos para “dar um corretivo” nos forasteiros mais abusados são alguns dos ingredientes desse imenso caldeirão. Dando tudo certo pode-se pegar o melhor tubo da vida.
Esse foi o cenário encontrado pelo pernambucano Gabriel Farias, Biel, de 18 anos. Por mais temido que seja, o arquipélago norte-americano é parada obrigatória para quem deseja seguir no mundo do surfe. É necessário saber conviver com esse ambiente inimigo para crescer no esporte.
Biel tem se saído melhor na temporada atual (de novembro a março) do que na anterior. Da primeira vez, sentiu-se travado. O medo faz parte da evolução. Para encarar um dos picos mais concorridos do mundo, é preciso aprender como se colocar no mar, como chegar até o fundo e como se portar diante dos locais, os “donos” da bola.
“Estou com a experiência do ano anterior. Fez muita diferença. Surfei mais. Pude conviver mais uma vez com a concorrência de estar ao lado dos melhores do mundo e, quando voltei para casa, senti que evolui. Em novembro deste ano tem mais”, disse, animado.
Atual campeão júnior do Brasil, Biel está sendo preparado pela marca Seaway para voos mais altos. Assim como no futebol, algumas empresas de surfe oferecem toda a infraestrutura necessária para que, desde cedo, a garotada possa ser testada em condições diferentes de onda, moldando o surfe dos mais talentosos. O mais novo da turma de pernambucanos que encarou o Havaí, conheceu antes Bali, na Indonésia, e Puerto Escondido, no México.
“Agora, eu me sinto mais preparado para enfrentar de igual para igual outros surfistas. Em 2014, o foco é competir no WQS (divisão de acesso da elite mundial) e alguns eventos sub-21. É como se a minha vida de profissional começasse agora”, comparou.
 Reportagem original publicada no caderno de esportes do Jornal do Commércio

Nenhum comentário:

Postar um comentário